SEXTA-FEIRA SANTA
Como a Sexta-Feira Santa é feriado, deveríamos aproveitá-la para dedicar-nos aos acontecimentos sagrados que celebramos na liturgia da tarde. Esse poderia ser um dia muito especial. Muitos o tomam como um dia de silêncio, permanecem calados durante o café da manhã, e ouvem uma música que combine com a situação. Um café da manhã em silêncio une a família de um jeito diferente do que acontece com as conversas dos dias normais. Muitos jejuam durante a Sexta-Feira Santa. Comem apenas pão seco ou se limitam a tomar líquidos. Faz bem à alma afastar esse dia da rotina de sempre, cumprir nossos próprios rituais de Sexta-Feira Santa, enquanto indivíduo e enquanto família. Algumas famílias rezam juntas os Salmos ou meditam juntas sobre o calvário.
O ponto alto da Sexta-Feira Santa é a liturgia às 15 horas, a hora em que Jesus morreu. É uma celebração antiga e tradicional entre os católicos; não se trata de uma celebração eucarística, mas de uma liturgia marcada somente pela palavra, por cânticos e ritos. Ela começa com um longo silêncio, durante o qual o sacerdote e os auxiliares permanecem deitados no chão. Com esse gesto inusitado, os celebrantes da liturgia expressam a idéia de que só conseguimos nos aproximar do mistério da morte de Jesus na cruz quando estamos em silêncio. Em seguida, o texto da Paixão segundo o Evangelho de São João é lido em voz alta ou cantado. João descreve a Paixão de Jesus de maneira semelhante ao que fazem os sinóticos: com a prisão, interrogatório pelos sacerdotes no Templo, interrogatório por Pilatos, flagelação e crucificação. Jesus, no entanto, percorre soberano essas estações de seu sofrimento. Desde o início João deixa claro quem é esse homem que os milicianos aprisionam. Diante dele caem por terra, e vêem-se obrigados a prestar-lhe homenagem como rei verdadeiro. Pilatos tenta intimidar Jesus. Mas mesmo detendo o poder político, ele surge diante de Jesus como impotente e fraco. Jesus menciona a razão de sua própria soberania: "Minha realeza não é deste mundo" (Jô 18,36). A dignidade de Jesus não é deste mundo. Ele desceu do céu para a terra. O mundo não tem nenhum poder sobre ele, mesmo que por fora pareça ser assim.
Não ouvimos o relato da Paixão de Jesus para admirá-la, mas para meditar em Jesus Cristo sobre a superação do próprio sofrimento. Vivenciamos em nossa vida as mesmas estações de sofrimento que Jesus percorreu antes de nós. Somos presos, condenados, mal compreendidos, feridos, expulsos e por fim somos pregados na cruz de nossas próprias contradições. Lá avançaremos solitários pelos portões da morte adentro. Mas em tudo isso vale também para nós o fato de termos em nós uma realeza que não é deste mundo, o fato de haver algo divino em nós, algo que não se submete a nenhum poder deste mundo. Isso nos dá a confiança de que seguiremos nosso caminho rumo à glória de Deus com liberdade e dignidade, ao lado de Jesus.
Depois das grandes preces nas quais a Igreja reza por todas as pessoas do mundo, a veneração da cruz constitui o ponto alto da liturgia da Sexta-Feira Santa. Não se venera a cruz como símbolo de sofrimento, mas como imagem de nossa salvação. A cruz é sinal de que Cristo assumiu todas as contradições da condição humana e transformou-as por meio de seu amor, que ele demonstrou ter por nós, até sua consumação na cruz. Nada mais em nós está excluído desse amor de Deus. Tudo em nós foi tocado por esse amor, que fulgura de maneira mais clara por intermédio do Filho de Deus que pende na cruz. É por isso que, diante da cruz, proclamamos nossa alegria pelo amor de Jesus, cantando: "Veneramos vossa Cruz, ó Senhor, proclamamos e louvamos vossa ressurreição santíssima: pois vede, através do lenho da cruz a alegria chegou ao mundo".
A cruz não quer oprimir, mas elevar; não quer ferir, mas curar; não quer sobrecarregar, mas tornar a carga mais leve. Na cruz vemos o mistério de nossa salvação e libertação.
FONTE: http://www.franciscanos.org.br
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