por Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém do Pará e assessor eclesiástico da RCCBRASIL
Gostamos de ano novo, roupa nova, carro novo, gente nova e bonita, ruas limpas, cidade organizada. Ninguém foi feito para curtir o desgaste e a feiura. Alegra-nos pensar que nascem de novo nossas esperanças, quando se abre o mês de janeiro. É muito bom gostar e curtir as esperanças fundadas na certeza de Deus nos fez para um mundo digno e bem tratado. Fomos feitos para a felicidade!
Contudo, muitas esperanças são frustradas através do choque com a dura realidade, de forma a gerar em muitas pessoas um pessimismo crônico diante dos acontecimentos e do mundo. Quando todos os municípios de nosso país acolheram novos representantes para o poder legislativo e novos prefeitos à frente do executivo, sensações contraditórias tomam conta dos cidadãos. De um lado, é sempre o novo que vem à tona, cheio de promessas. Mas o refrão repetido tantas vezes da desconfiança nos políticos pode esvaziar o entusiasmo.
Mais ao nosso alcance cotidiano, emprego novo ou primeiro emprego, aumento de salário, volta de férias, novo chefe na repartição, casa diferente, transferência, o casamento esperado. As surpresas estarão à nossa espera nos próximos doze meses, um dia depois do outro. E a cada dia basta o seu cuidado (Cf. Mt 6,34)! Por que tantas inquietações tomam conta de nosso coração? Erramos o alvo ao apostar no que é novo e promissor? Quais as razões para as muitas frustrações? Como preveni-las?
Nas últimas semanas, muitas pessoas arrumaram a casa e a vida para o fim do mundo, que não veio. Outras correram avidamente às previsões das várias categorias de adivinhos disponíveis no mercado! E muita gente ganhou dinheiro com tais oráculos! Os cristãos que fizeram a opção por seguir Jesus Cristo e querem viver o Evangelho com seriedade se encontram numa situação diferente. O ensinamento da Carta de São Pedro revela-se oportuno: “Ora, quem é que vos fará mal, se vos esforçais por fazer o bem? Mais que isso, se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir” (1 Pd 3,13-15). Nosso convite de início do ano é para que todos cheguem justamente a compartilhar as razões da esperança.
De esperanças passamos à Esperança. Esta é a chave! Não apostamos nossa vida no sucesso aparente do lucro ou da vitória garantida e fácil. Não confundimos salvação com prosperidade imediata, não queremos chamar Deus à obra de nossas mãos (Cf. Os 14,4). Se porventura o ano que começa nos encontrar na cruz, que a mesma fé e a mesma confiança em Deus subsistam em nós! Esperança é virtude teologal, dada de presente no Batismo. Trata-se de viver na esperança, não apenas de esperanças. Viver com a mesma firmeza, na luz ou na escuridão, diante da vida ou da morte, fortes ou fracos, segurando nas mãos de Deus.
A prática do bem e das diversas virtudes humanas, a serem exercitadas no dia a dia do ano novo, tem seu fundamento nas chamadas virtudes teologais (Cf. Catecismo da Igreja Católica, números 1812-1829), que fundamentam e orientam as ações dos cristãos. São dadas por Deus para que sejamos capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São elas a Fé, a Esperança e a Caridade.
Com a virtude da Esperança, desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a vida eterna, colocando nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos no socorro da graça do Espírito Santo, mais do que em nossas forças. “Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem esmorecer, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Hb 10,23). “Este Espírito, ele o derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornemos, na esperança, herdeiros da vida eterna” (Tt 3,6-7).
A aspiração à felicidade, plantada por Deus em nossos corações, é respondida pela virtude da esperança. Com ela, todas as expectativas que inspiram as nossas atividades são assumidas e ganham sentido. A partir dela, são purificadas as intenções, equilibrados os impulsos e eventuais exageros, moderada a concupiscência. Vale, sim, esperar o dia de amanhã, a aprovação num concurso, a casa nova e toda uma lista de coisas boas. Tudo encontra o seu lugar quando não é absolutizado. Só a escolha do seguimento de Jesus Cristo, aquele que é a única esperança, pode dimensionar adequadamente nossos afetos e sonhos.
“Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência torne duvidoso o que é certo e longo um tempo bem curto. Considera que quanto mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um dia com teu Bem-Amado em gosto e deleite que não podem ter fim” (Santa Teresa de Jesus, excl. 15,3). Para esta serenidade, é necessário confiar além do tempo e das vicissitudes dos dias que correm. O cristão, certo de que a “esperança é como uma âncora segura e firme” (Hb 6,19), tem a garantia de que o ano que começa será o melhor de todos e os que se seguirem, melhores ainda!
Fonte: Zenit
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